segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Teorias do Comércio Internacional II

A Teoria da Dotação de Fatores [Neoclássica ou de Heckscher-Ohlin Samuelson]


A explicação para a existência do comércio internacional estaria na diferença da dotação de fatores de produção de capital e trabalho entre os países, e diferenças na utilização desses fatores entre setores da economia.

A teoria considera dois fatores: capital e trabalho. Os países possuem dotações diferentes. Existem produtos que exigem mais mão-de-obra e outros que exigem mais capital. Há concorrência perfeita  em todos os setores e conhecimento tecnológico disseminado entre os países.

Ex: dois países [A e B], e dois produtos [alimentos e máquinas/equipamentos]. O gráfico abaixo mostra as CPP diferenciadas dos dois países.




O país A tem mais mão-de-obra, sendo mais favorável a produção de alimentos. O país B, por ter mais capital, tem melhores condições de produzir máquinas. Nestas condições, País A tenderá a exportar alimentos e País B a exportar máquinas.

A explicação para a diferença entre os CO entre os países, baseia-se na diferença de dotação de fatores, possibilitando o comércio internacional com ganhos recíprocos.

Essa explicação foi incorporada à teoria do comércio internacional na primeira metade do séc. XX, como um extensão da teoria das vantagens comparativas de Ricardo.



Considerações Sobre as Limitações da Teoria das Vantagens Comparativas


No mundo real, essa especialização em bens que o país tenha vantagem comparativa tende a não ocorrer:


  1. Há limitação de fatores de produção a serem considerados, como por exemplo o conhecimento tecnológico, que pode ser considerado um fator a parte, assim como os recursos naturais, que não estão distribuídos igualmente entre os países.
  2. Há proteção interna da produção nos países [para proteger o nível de emprego, por exemplo]. Esse fato introduz um elemento que interfere nos fluxos de comércio e nos resultados potenciais.
  3. Há as questões de transporte entre os países, que podem inviabilizar o comércio, mesmo que os custos sejam baixos.
  4. Grande parcela da renda dos países é gasta com bens não comercializáveis, como conserto de automóveis ou manicure.
  5. Países tem tamanhos diferentes. Assim, mesmo que um país menor se especialize na produção de um bem, não conseguirá atender a demanda de um país maior.

Apesar de suas limitações, a teoria das vantagens comparativas mostra questões importantes como a importância da produtividade e a prevalência das vantagens comparativas [e não das absolutas] na explicação do comércio.


Teoria do Ciclo de Vida do Produto


Nasceu do intuito de analisar porque um produto surge em um país e que fatores contribuem para que, após certo grau de desenvolvimento, a empresa que o produz tenda a localizar sua produção em outro país. Seu desenvolvedor foi Raymond Vernon, no período imediatamente posterior a Segunda Guerra Mundial até meados da década de 1960, nos EUA.

Os produtos são inovações em setores industriais para consumidores de alta renda. São produzidos em países mais desenvolvidos pois estes possuem progresso tecnológico e monopólio transitório, devido a sua capacidade de investimento em pesquisas e mão-de-obra altamente qualificada, alem da renda elevada.

Com o passar do tempo, o poder de monopólio se dilui devido a imitação por outras empresas, sendo então levado a países menos desenvolvidos para produção, uma vez que esta já se tornou padronizada.


  • Ciclo de vida dos produtos:
  1.  Fase inicial: Desenvolvimento e introdução no mercado. As vantagens comparativas seriam dos países inovadores, desenvolvidos. 
  2. Fase de maturação: entram novos concorrentes no mercado ainda altamente concentrado nos países desenvolvidos. Com a diversificação da oferta, a concorrência passa a ser mais elástica aos preços.
  3. Fase de pós-maturação ou padronização: o consumo se massse massifica e a escala de produção aumenta, perdendo importância os custos vinculados a atividade de inovação e ganhando importância as atividades vinculadas aos custos tradicionais (capital, mão-de-obra e matérias- primas). 

A teoria não explica os fluxos de investimentos estrangeiros no cenário atual de integração dos mercados em nível mundial, mas rompe com a nocao de vantagens comparativas baseadas apenas na dotação de fatores, introduzindo um componente de dinamismo.

Teorias do Comércio Internacional

Mercantilismo

Pregava dois tipos de comportamento inter-relacionados de comportamento para estados internacionais:

  • A obtenção de superávits nas transações externas;
  • O consequente acúmulo interno das moedas internacionais do período: ouro e prata. 
A ideia era um comércio nacionalista, em que se buscava interesses próprios em detrimento dos outros países. Devia haver o máximo de exportações e o mínimo de importações.

O comércio funcionou dessa forma por três séculos - XVI ao XVIII. A intervenção do Estado era fundamental, pois este garantia privilégios e exclusividade [companhias de comércio]. Assim, ganhavam os grupos envolvidos com o comércio externo, e estes financiavam o Estado nacional - ganho mútuo.

A política colonialista sofreu influência do mercantilismo, tendo por objetivo explorar ao máximo as colônias em prol do enriquecimento do mercado europeu, ou em busca de metais. Por essa razão haviam barreiras a qualquer tipo de produção que não trouxesse ganhos de comércio às metrópoles.

A doutrina mercantilista passou a ser criticada na segunda metade do séc. XVIII, coincidindo com a Revolução Industrial, que mostrava novas formas de obter lucros com a produtividade. Um de seus maiores críticos foi Adam Smith, que defendia o livre comércio [não intervenção do Estado].

Teoria das Vantagens Comparativas

Se um país produz algo melhor, dizemos que ele tem vantagem absoluta na produção deste bem ou serviço, em relação a outro país. Agora se um país detiver vantagem absoluta na produção de ambos os bens, tem-se que verificar a vantagem comparativa na produção desses bens. 

Ex: A imagem abaixo mostra a produção de carne e cereais por Pedro e José, numa jornada de 8 horas de trabalho [4h para cada produto]:




Levando-se em consideração o custo de oportunidade, a cada hora adicional que Pedro dedica à produção de cereais, ele deixa de produzir 6 kg de carne e pode produzir 12 kg de cereais. O custo de oportunidade da produção de 1 kg de cereais é 2 kg de cereais, enquanto o CO da produção de 1 kg de cereal é de 1/2 de unidade de carne. 

Para José o CO de 1 kg de carne é 4, enquanto para a produção de cereais o CO é de 1/4.

Assim, Pedro tem um custo de oportunidade menor que José em carne, mas José tem um CO menor em cereais. Logo, Pedro tem vantagem comparativa na produção de carne, e José na produção de cereais.

Nesse caso, se José der 3 kg de cereais para Pedro em troca de 1 kg de carne, os dois melhoram de situação. Sem a troca, José, para obter 1 kg de carne, teria que deixar de produzir 4 kg de cereais, tendo um custo maior. Pedro, por sua vez, para obter 3 kg de cereais, teria de abrir mão de 1,5 kg de carne, também com custo maior. 

A lição a ser tirada do exemplo é que a especialização na produção pode ser vantajosa para os dois lados, cada um se especializando no bem que produz com menor custo relativo [CO]. O que conta são os custos relativos na produção de um bem em relação ao outro produtor. Isso abre espaço para o comércio com ganho mútuo.

As Curvas de Possibilidades de Consumo também se alteram se houver comércio. Se inicialmente, por exemplo, Pedro consumia 38 de carne e 20 de cereais, e José 8 de carne e 32 de cereais [CPC= CPP]. Especializando-se na produção de carne, Pedro poderia trocar com José 10 kg de carne por 30 de cereais. Seu consumo seria então 38 de carne e 30 de cereais: o ponto B, que antes era inatingível. José por sua vez, especializando-se na produção de cereais , após a troca, ficaria com 34 kg de cereais [64 produzidos menos 30 da troca], e 10 de carne, consumindo mais que antes. A troca melhora o bem-estar para ambos:


 

Essa teoria das vantagens comparativas foi proposta no século XIX por David Ricardo, economista inglês, e é central na análise do comércio internacional.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Escolha, Custo de Oportunidade e Trocas


  • Coeteris Paribus: "tudo o mais constante". É usada na economia para definir que, num dado raciocínio, tomam-se como constantes todas as variáveis que poderiam ter influência no fenômeno em análise, com exceção da variável em consideração.
  • Tipos de Bens: tudo aquilo que contribui para a satisfação direta ou indireta de desejos ou necessidades humanas são considerados bens.
    • No sentido restrito: refere-se a coisas tangíveis, que tem existência física [mercadorias].
    • No sentido lato: refere-se tanto a mercadorias quanto a serviços [transporte, atividades profissionais liberais, etc.].
  • Os bens são classificados de acordo com a forma e circunstâncias em que é utilizado [disponibilidade, forma de utilização e uso]:
    • Disponibilidade:
      • Bens Livres: não escassos. Ex: ar, luz solar.
      • Bens Econômicos: escassos, cuja obtenção implica sempre um custo. Ex: MP3 player.
    • Formas de Utilização:
      • Bens Intermediários: que irão compor ou se transformar em outros bens. Ex: cristal líquido utilizado para a tela do MP3 player.
      • Bens Finais: que não sofrerão mais nenhum processo de transformação ou de agregação de valor. Ex: MP3 player.
    • Uso: 
      • Bens de Capital: apesar de não se transformarem mais em outros bens, irão participar do processo de produção de novos bens. Ex: MP3 player utilizado por uma revista musical.
      • Bens de Consumo: capazes de satisfazer imediatamente as necessidades das pessoas. Ex: MP3 player utilizado por um adolescente comum.
        • Duráveis: produzem serviços ou têm utilidade por um período de tempo. Ex: geladeiras, máquinas de lavar, automóveis.
        • Não-duráveis: inteiramente usados no ato de consumo. Ex: alimentos.
  • Eficiência econômica: obtenção do máximo possível, com os recursos disponíveis; ou obtenção de certo resultado com o mínimo de recursos possível. Uma alocação eficiente de recursos é chamada de "ótimo de Pareto".

  • Eficiência x Equidade: em algumas circunstâncias pode haver um conflito entre eficiência econômica e equidade distributiva [trade-off entre eficiência e equidade]. Ex: o lançamento de impostos progressivos [os mais ricos pagando proporcionalmente mais de sua renda], é um princípio de equidade. Contudo, esses impostos podem ter um efeito negativo sobre os incentivos para o investimento, e causar outras distorções, impedindo a alocação eficiente de recursos.
  • Fatores de Produção [recursos produtivos]: são os elementos básicos utilizados na produção de bens e serviços.
    • Terra: refere-se a terras que se pode cultivar, construir, etc; mas também se refere a recursos naturais, como minérios ou água.
    • Capital: recursos produzidos pelo homem e destinados a produção de outros bens, como máquinas, equipamentos e edifícios.
    • Trabalho: conjunto de serviços humanos empregados na produção.
  • Escolhas no Consumo: A Linha de Possibilidades de Consumo [LPC]
    • Levando-se em consideração a escassez de escolhas e a maximização dos ganhos, traça-se a Linha de Possibilidades de Consumo, de um dado consumidor com dois produtos que podem ser consumidos por ele. Em cada eixo ficariam as quantidades possíveis de cada produto. A LPC [ou Curva de Restrição Orçamentária] seria a reta que liga os dois eixos, mostrando as combinações possíveis dos dois produtos de acordo com a renda disponível. Os pontos da LPC são combinações possíveis, mas não necessariamente desejáveis. Ex: Se João tiver como renda R$ 150, 00 para alimentação, e tiver duas alternativas: fast-food, R$ 12,50, e RU, R$ 2,50, é possível traçar sua LPC:

       

      Os pontos A a E são as opções otimizadas. O ponto F seria o caso de João não gastar todo seu dinheiro, que vai contra o princípio do agente maximizador.

      A LPC representa uma fronteira de consumo, mostrando o consumo máximo possível, dada a restrição orçamentária.

  • Escolha na Produção: A Curva de Possibilidades de Produção [CPP]:

    A CPP mostra a fronteira de produção de uma unidade produtiva, onde o produtor escolhe dentre alternativas, buscando maximizar seus ganhos. Sua restrição orçamentária são os recursos que dispõem para a produção. Mostra as combinações possíveis de produção de dois produtos com as quantidades disponíveis dos fatores de produção [terra, capital e trabalho], e com a tecnologia existente.




    Os pontos A ao E representam as combinações possíveis de produção máxima de milho e soja. Abaixo da CPP, se houvesse algum ponto, haveria subutilização de recursos, sendo, portanto, ineficiente. Pode haver alteração dos fatores de produção como avanços tecnológicos ou aumento de capital. Também pode haver diminuição, como uma situação de guerra.
  • CPP e Custo de Oportunidade:Ainda observando a imagem acima, podemos conceituar o custo de oportunidade. Se um produtor sair do ponto A, onde produzia 100 sacos de milho e nenhum de soja, e for para o ponto B, onde produziria 75 sacos de milho e 20 de soja. Os 25 sacos de milho que ele deixa de produzir [pelos fatores limitados de produção: terra, capital e trabalho] são o custo de oportunidade. A conta pode ser feita por regra de três:


         20 sacos a mais de soja ------------ 25 a menos de milho             
          1 saco a mais de soja -------------- x sacos a menos de milho                           

            ou           x = 25 = 1,25
                                 20


    Logo, seriam 1,25 sacos a menos de milho. O custo de oportunidade de 1 saco de soja é igual a 1,25 sacos de milho.

  • Custo de Oportunidade e Trocas:

    O conceito de custo de oportunidade tem grande importância na análise das trocas entre agentes. O gráfico abaixo representa o caso de dois marceneiros, Alfa e Beta, que podem escolher entre produzir cadeiras ou mesas:

          
          Eles têm acesso às mesmas tecnologias, mas cada um tem uma dotação de fatores produtivos fixa, sendo distintas suas possibilidades de produção. 
    • Vantagem absoluta: quem consegue produzir o bem em maior quantidade. No exemplo dado, Alfa possui vantagem absoluta tanto na produção de mesas quanto na de cadeiras em relação a Beta.
    • Vantagem comparativa: está relacionada ao custo de oportunidade, sendo necessário calcular os custos de oportunidade de produção daquele bem para todos os produtores em questão. Divide-se a quantidade máxima de produção dos produtos para alcançar o custo de oportunidade. Quem tiver o menor custo de oportunidade, ou seja, quem deixar de  produzir menos de um bem para produzir outro. Sendo assim, Beta possui vantagem comparativa na produção de cadeiras, já que Beta teria 2/10= 0,2, enquanto Alfa teria 4/12= 0,33.

      Havendo possibilidade de troca, os produtores se especializarão na produção em que têm vantagem comparativa, pois lucrarão com isso.
    • Vantagem relativa: situação em que a troca de produtos deixa ambos produtores em melhor situação.
      • Homem econômico: maximiza os ganhos e minimiza as perdas.

        Se ambos se especializarem naquilo que tem vantagem comparativa, a troca será fortuita para ambos.
  • Os Ganhos com a Troca:

    As diferenças nos custos de oportunidade geram vantagens comparativas, que abrem possibilidades a trocas, que podem beneficiar a todos. A distribuição dos ganhos depende da relação em que se dê a troca [preço]. O comércio melhora a alocação dos recursos produtivos para o conjunto dos dois produtores. A maximização da eficiência produtiva requer que cada um se dedique a produzir aquilo que faz melhor [especialização]. 

Introdução à Economia


  • Economia: é a ciência que estuda a alocação de recursos escassos.
  • Recursos: matéria-prima, trabalhadores, dinheiro, recursos financeiros, terrenos, etc.

           - Bens Livres: recursos de que se pode dispor à vontade. [Ex: ar, luz solar, etc.].
           - Bens Econômicos: são escassos, sendo objeto de troca, e tendo um preço no mercado.


  • Economia Normativa: quando a escolha de utilização dos recursos escassos envolve compatibilização de diferentes objetivos e distintos juízos morais ou de valor. [opiniões, ações sobre a realidade].
  • Economia Positiva: quando são feitas teorias para explicar a realidade, analisar e explicar os fenômenos econômicos tais como são. [conceituação].
  • Oito Princípios Básicos da Economia, segundo Gregory Mankiw:
  1. Escolhas e Trade-offs: Dado que os recursos são escassos, é necessário escolher entre dois fatores que se opõem de alguma forma, a fim de alcançar a melhor combinação. Trade-off é o equilíbrio alcançado com essa escolha [perda e ganho]. Ex: um arquiteto tem que escolher a funcionalidade e a beleza de uma edificação.                                                                                      
  2. Trade-offs e o "Custo de Oportunidade": Ao fazer escolhas há perdas, o custo da alternativa escolhida é dado pelo valor da alternativa que foi preterida. Custo de oportunidade é o que se perde ou deixa de ganhar ao fazer uma escolha qualquer.
  3. Escolha e Decisão na Margem: Muitas decisões só fazem sentido quando feitas na margem, ou seja, considerando não grandezas totais, mas os acréscimos a esses valores associados à decisão considerada. Ex: Quando a venda de passagens aéreas, no preço normal, deixa lugares vagos. Nesse caso, o custo marginal de transportar uma pessoa adicional, é irrelevante para a companhia aérea. É lucrativo vender tais lugares a preços mais baixos pela publicidade positiva.
  4. Decisões e incentivos: Agentes econômicos respondem a incentivos. Ex: se o preço das bananas aumenta, há incentivo os compradores de comprar outras frutas mais baratas, e também haverá estímulo para que os produtores aumentem o cultivo dessa fruta. Quando tomamos decisões levamos em consideração não apenas o custo de oportunidade ou a análise "marginal" dessa escolha, mas também incentivos positivos ou negativos.
  5. Especialização na Produção e Trocas: A especialização faz com que cada um se dedique a atividade que sabe fazer melhor, tornando a produção maior do que no caso de todos produzirem tudo. A especialização está associada à troca: cada um produz e vende seu artigo, e com o produto da venda compra os demais artigo para seu consumo. Ex: ao invés de um padeiro fazer suas roupas, sapatos e pães, ele faz os pães, vende e compra os demais produtos, otimizando seu tempo e produção.
  6. Trocas e Mercados: A argumentação, na maioria dos casos, gira em torno do livre mercado: a alocação dos recursos seria determinada pela interação dos agentes econômicos, guiados por seus próprios interesses e pela sinalização dada pelos preços. Adam Smith descreve isso como a "mão invisível" da economia guiando as ações individuais para o favorecimento do bem comum. Ele também advogava pelo não intervencionismo do Estado.
  7. Falhas de Mercado e Funções Econômicas do Governo: Quando o mercado não funciona adequadamente [falhas de mercado], faz com que seja necessária uma ação corretiva ou coordenação por parte do governo. Ex: quando há conflito entre o interesse individual e o coletivo: em certos casos, se cada um agir em função de seu próprio interesse, o resultado é pior para a maioria ou para todos. Ações governamentais também são desejáveis no sentido de diminuir desigualdades, investir em infraestrutura, provisão de serviços de saúde e educação, ou atividades que não podem ser adequadamente supridas pela iniciativa privada. Ex: o governo pode aumentar gastos em infraestrutura, criando empregos, ou estimular a demanda dos agentes privados [reduzindo impostos, facilitando o crédito, etc.], o que também geraria empregos.
  8. Padrões de Vida e Produtividade: Além de fatores naturais, como a presença de reservas de petróleo, as instituições estatais podem ser de grande influência na economia de um país. Instituições estáveis e confiáveis facilitam o investimento, e por conseguinte, o crescimento econômico. O padrão de vida médio de um país depende de sua capacidade de produzir bens. A produtividade é a relação entre a quantidade produzida e a quantidade de fatores utilizados. A produtividade depende da tecnologia, nível de preparação, educação, e experiência da força de trabalho. Nesse sentido o governo tem o importante papel de investir na condução de pesquisa básica e aplicada, como o que ocorreu com o rápido crescimento das exportações agrícolas, obtido graças as pesquisas da EMBRAPA.

domingo, 30 de setembro de 2018

Grotescas


Autor:
Natsuo Kirino
Tradutor: Alexandre d'Elia (do inglês)



Nº de Páginas: 576
Editora: Rocco
Gênero: Romance Policial



"Lá estava ela em carne e osso: minha amada rival da época do colégio, a encarnação da libertinagem."



          Acho que sempre espero uma análise do comportamento humano em livros asiáticos. E mais uma vez fui levada aos confins mais profundos do ser humano. Até onde se pode chegar, em termos de instinto? A natureza humana pode ser mudada? As personagens demonstram que não. A tendência é se afundar cada vez mais na decadência.

          A história narra a vida de duas irmãs: Yuriko, a belíssima, e sua irmã mais nova, a complexada. A narradora mostra desde sempre seu lado mesquinho e invejoso. Mostra a versão dela de como sua vida foi prejudicada por ter uma irmã monstruosamente bela. Imagino que por construção da autora, mostrando a fixação da narradora pela beleza, e por conseguinte o papel social que a beleza impõe no Japão, eu não consigo lembrar o nome dela.

         A narradora é a figura apagada que vive em função de seu complexo com a irmã. Sendo, até mesmo depois da morte desta conhecida como a irmã mais velha de Yuriko. Yuriko é a encarnação da luxúria, admitindo ela mesma não gostar dos homens, apenas de sexo. Começou sua vida de prostituição aos 15 e não parou até ser assassinada.

          Outro complexo social exposto no livro é o esforço inumano que a cultura japonesa impõe aos estudantes. Mitsuru é uma das personagens que viveu isso, e ao terminar seus estudos simplesmente não sabia o que fazer de si. Kazue Sato, viveu dilema semelhante, mas ao contrário de Mitsuru, ela nunca foi aceita, por nenhum grupo, em momento algum de sua vida. Sempre buscou agradar e seguir os passos de seu pai. Via sua mãe como inferior e odiava a irmã. Nunca conseguiu se adaptar nem fazer amigos na escola. No emprego continuou a não ser incluída. Até como prostituta ela não era aceita. Não havia lugar no mundo para ela, porque ela não tinha beleza, porque era mulher numa sociedade machista.

          O livro é considerado um romance policial. Mas não o vejo assim, pois a parte investigativa é deixada em segundo plano. O que são analisadas são as personalidades e pontos de vista. Nem mesmo nos é dada a certeza de que o que alguém disse é mesmo verdade. São diários, notícias, depoimentos. Recortes de visões parciais que nos propomos a montar ao ler.

         Natsuo escreveu um romance entretecendo temas polêmicos como bullying, beleza e sociedade, misoginia, a cultura japonesa de se exaurir para alcançar objetivos, incesto, prostituição, o bem e o mal, xenofobia, etc.

Link para o livro: Grotescas

O Dualismo da Natureza Humana e suas Condições Sociais

DURKHEIM, Émile, “O dualismo da natureza humana e suas condições sociais”, in A ciência social e a ação. 

          O estudo da sociologia não se limita ao estudo de grupos humanos. Precisa, necessariamente, perpassar o estudo do indivíduo, e como este é formado a partir do social. O homem sempre esteve em confronto com a dualidade do ser: alma x corpo [tema bastante explorado pelas religiões], apetites sensíveis individuais x atividades morais [fome, sede x regras sociais], sagrado x profano. Agir de modo exclusivamente individual causaria dor, pois temos consciência das regras morais.
          De um lado temos os grupos: o lado social humano. Somos homens por sermos civilizados, e essa civilização também depende de cada indivíduo vivendo em comunidade. De outro lado temos o indivíduo: que faz contraposição ao social. É necessário sermos individuais para pensarmos, mas não há possibilidade de geração de pensamentos sem o convívio social.

          Duas cadeias de pensamento tentam derrubar a ideia da dualidade humana:


  • O monismo empírico nega esse conceito de dualidade. Para eles, o homem que cumpre um dever moral apenas busca interesses pessoais.  


  • O idealismo absoluto acredita que a realidade é una, e nós que não temos a capacidade de interpretá-la em seu emaranhado.

          As duas são refutadas pelo fato mesmo de os humanos buscarem religiões que insistem nessas contradições, mostrando o homem como um ser atormentado. Algumas teorias sobre a dualidade foram criadas por pensadores como Platão, que vê o homem como dividido em dois mundos: o mundo das ideias, do espírito e do bem, e o mundo amoral, da matéria. Kant insistia na ideia de termos uma faculdade de pensar individual, a sensibilidade, e uma faculdade de pensar universal e impessoal, a razão. Estas teorias, contudo, não explicam de onde surge a dualidade, nem como somos capazes de viver com essa batalha interna. 

          Os ideais da consciência grupal são repassados e aceitos, e mesmo quando o indivíduo se afasta, voltando a sua individualidade, estes permanecem, de forma  mais amena. As festas públicas e cerimônias tem o papel de reavivar o sentimento de pertencimento ao grupo. A consciência do grupo nos é imposta, e a vemos como superior, a aceitando como tal. Porém, ao nos afastarmos da figura de poder, e/ou por nosso convívio e experiências pessoais, a interpretamos a nossa maneira. "a sociedade tem uma natureza própria e, por conseguinte, exigências totalmente diferentes daquelas que estão implícitas na natureza do indivíduo." (p. 303). Assim, viver em sociedade impõe ao indivíduo um esforço, de sair de seu caminho e tomar ações em prol dos demais.

sábado, 8 de setembro de 2018

O Pensamento Sociológico no Século XVIII

BIERSTEDT, Robert, “O pensamento sociológico no século XVIII”, in BOTTOMORE, T., e NISBET, R., História da análise sociológica. Rio, Zahar, 1979. p. 19-64.


O Pensamento Sociológico no Século XVIII


Robert Bierstedt

      O termo "sociologia", surgiu no séc. XIX, apesar de suas ideias terem um passado longo. Os filósofos, livres pensadores, se interessaram pela natureza do homem de viver em grupos. Estes, eram "filósofos morais, não cientistas sociais, interessados não no estudo da sociedade em si mesma, mas na sua reforma em benefício da humanidade. Eram também cientistas políticos e não sociólogos, interessados na origem e usos do governo, e não na estrutura da sociedade." (p.20) Seu lema era Sapere Aude: ousar conhecer. 

     O Iluminismo se baseava em quatro pilares: substituição da religião pela ciência; exaltação da razão; crença na perfectibilidade do homem (progresso da raça humana); preocupação com os direitos do homem.

         A ciência teve avanços admiráveis com Copérnico, Newton, Galileu, entre outros, que tiveram de enfrentar a Igreja em época de inquisição para manter seus postulados, descobertos a partir do recém criado Método Científico. "Conhece-te a ti mesmo, não pretendas Deus investigar, O estudo adequado ao homem é a humanidade." (p.24), Pope, sobre o início do antropocentrismo. As ciências sociais não eram distinguíveis no séc. XVIII, e o autor aborda figuras importantes do pensamento iluminista que ajudaram a trazer a tona a Sociologia:

--->> FRANÇA

* Montesquieu: Homem viajado, "Considerava-se primeiro homem, e depois francês, e queria ver todos os povos imparcialmente." (p.25). Escreveu Cartas Persas, no qual narrava a forma de ver a vida e as instituições francesas pelos olhos de um oriental. Isso, que na Antropologia é também buscado: se distanciar e ver as diferenças, para então analisar os fatos sociais de sua sociedade de origem. Em outro livro, Montesquieu exclui o papel da divindade da análise histórica, além de diminuir o papel do indivíduo. Logo, acontecimentos individuais não teriam poder de alterar fatos gerais. Para ele, segundo Plamenatz, "Todas as instituições, políticas, religiosas, domésticas, econômicas e artísticas estão, aos seus olhos, inseparavelmente relacionadas entre si." (p.27). 

          Em O Espírito das Leis, dedicou grande atenção ao clima como fator determinante na cultura de um povo. Afirma que os países frios teriam pessoas superiores em força, mais francas; enquanto nas países temperados as pessoas seriam mais sensíveis aos prazeres. Ele também considera outros fatores como o solo, a disponibilidade de água, distância do mar e presença de portos naturais, além da distribuição das massas de terra e água. Além do fator geográfico, ele também considera importantes: a religião, as leis, moral e costumes, comércio, educação, música, agricultura, pobreza, etc. Montesquieu "Excluiu o sobrenatural da explicação das sociedades humanas e apresentou o método comparado para o estudo das instituições sociais." (p. 31). O objetivo deste livro seria o o mesmo que o da Sociologia: tornar a história inteligível.

* Voltaire: Era contra o cristianismo, por este se opor a razão. Acreditava na unidade da humanidade, pois os homens podem ser diferentes na aparência, porém tem os mesmos sentimentos e desejos. Não tinha preferências políticas, observando porém que "os ricos preferiam a aristocracia, o povo a democracia, e os reis a monarquia." (p.31). Natureza x Costume. Acreditava em justiça, porém dizia que a igualdade era uma ilusão. Buscava conhecer os passos que a humanidade deu da barbárie à civilização, uma história contada a partir das grandes ideias mais do que das conquistas militares. Homem x ambiente.

* Rousseau: Afirma que a sociedade é corruptora do homem, e que a ignorância havia sido substituída pelo ceticismo. O aparecimento da ciência seria o declínio da moral. Diz que as diferenças entre os homens podem ser naturais ou sociais. Sendo que as desigualdades naturais seriam estas aumentadas pelas sociais. Desde sua origem, os homens foram se espalhando e criando linguagens e costumes, até que passaram a viver em pequenas sociedades: as famílias, que passaram a se unir em grupos maiores, tornando as ocupações mais especializadas. Começaram então as desconfianças, e o homem tornou-se mau. Para se defenderem os homens se juntaram e "correram ao encontro de suas cadeias" (p.35). "O homem é, por natureza, bom, e somente suas instituições o tornaram mau." (p.36).
Ao perder a liberdade do estado natural, é preciso ser ressarcido em sua vida social, por meio de um contrato, criando um órgão coletivo e recebendo uma unidade e uma identidade comum. Ressalta a importância dos costumes, os quais equipara as demais leis.

* Diderot: Um dos compiladores da enciclopédia, tidos por ateístas. O verbete "homem" aparece como um ser social, sem menção a teoria criacionista.

* Condorcet: Foi contra a escravidão, um dos primeiro a sê-lo. Ardoroso defensor dos direitos das mulheres. "Apoiou o sufrágio universal, a educação universal gratuita, a separação entre a Igreja e o Estado, a liberdade religiosa para todas as crenças sem exceção, o bem estar-social e o seguro social para os pobres, o processo adequado da lei para todos, uma legislatura unicameral, um tribunal mundial com autoridade para solucionar disputas internacionais, a livre empresa, o casamento civil e o divórcio, e o controle da natalidade." (p.40). Entre seus estudos está a perfectibilidade do homem através da razão.

--->> ITÁLIA

* Giambattista Vico: estudou a ascensão e a queda das nações, em seu livro A Nova Ciência. "É a história da gênese da sociedade e da longa transição para a civilização, processo que se inicia com a religião e termina com as artes e ciências." (p.44). Aspectos criacionistas foram mantidos por medo da inquisição, apesar de afirmar que a religião seria uma resposta ao medo. Vico identifica três estágios nas histórias das sociedades humanas: a idade dos deuses; a idade dos heróis; e a idade dos homens. E estes estágios se repetiriam em ciclos. Cada sociedade criou sua própria cultura, tendo pois, todas elas, uma base de verdade, e nenhuma tradição sendo totalmente falsa.

--->> ESCÓCIA

* David Hume: Dizia ser o costume o grande guia da vida humana. "As regras, são necessárias tanto para a satisfação dos interesses individuais como para a estabilidade da sociedade." (p.47). Apresenta como a fraqueza do homem preferir o bem imediato. Também acredita na natureza cíclica das sociedades, e em seu fundo de características comuns, e diz que ao observarmos as sociedades podemos descobrir os princípios constantes e universais, e assim, conhecer as molas regulares da ação e comportamento humano. Refuta Montesquieu e sua visão de que a geografia afetaria o temperamento humano.

* Adam Ferguson: "Ferguson acreditava que a sociedade é o estado natural do homem, e que o estudo adequado da humanidade é o estudo de grupos, e não de indivíduos." (p.49). Para ele, a mente humana precisaria do convívio social para se desenvolver. Concorda com a geografia de Montesquieu, e apresenta as suas três fases humanas: selvagem, bárbara e polida. Diz que a evolução social é linear, se devendo à virtude, que floresce em tempos de luta e sucumbe ao vício quando estas são ganhas. Acreditava que a guerra era própria das sociedades e lhes dava forma.

* John Millar: Se interessa pelas maneiras, costumes e instituições sociais. Rejeita a teoria de Montesquieu. Afirma que uma sociedade sem classes é vã, ao que explica: "As classes superiores são ao mesmo tempo parasitárias e dotadas de qualidades de liderança, e as classes inferiores são estúpidas e dotadas de uma inteligencia apenas animada." (p.53). Estabeleceu quatro fases na evolução social: fase da caça, fase pastoril, fase agrícola e fase comercial.

--->> ALEMANHA

* Herder: Tendeu para a religião, mais que os demais pensadores. Fez uma apreciação do clima sobre sobre as diferentes raças: "Não obstante as Variedades da Forma humana há apenas uma e a mesma espécie de homem em toda a Terra." (p.55). Reconhece também que o homem necessita da vida em sociedade para seu desenvolvimento. Aponta a paz como estado natural do homem, mesmo que a guerra se faça necessária, às vezes. Sua análise é principalmente historiográfica.


          Não há sociólogos ingleses relevantes a serem apresentados durante esse período. 

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Momo e no Tegami


          Filme assistido por partes no meu celular, porque na TV dá trabalho e só preguiça mesmo. [reparando em como está ficando cada vez mais complicado escrever sem abreviações, ou sem esperar que a palavra se corrija sozinha. Estamos ficando preguiçosos, sistematicamente]. Ouvi alguém dizer que assistir filmes no celular tira grande parte da experiência que é a sétima arte. A modernidade está acabando comigo. Enfim, gostei do filme. Não te faz criar muitas expectativas, nem é cansativo, nem tem grandes valores morais em jogo. É um filme para se aproveitar. Do tipo que está em falta.

          Sobre filmes com críticas a sociedade: sim são importantes. Mas não é obrigatório que todos sejam, nem que mostrem isso de uma forma exagerada ou ridícula. Cara, as pessoas conseguem aprender mais com coisas que não foram feitas especificamente no intuito de ensinar. Cada vez mais tentam nos forçar a aprender, quando uma psicologia reversa poderia ser bem mais proveitosa. Jovens não gostam de se sentir manipulados a fazer algo. Eles tem um arraigado senso de resistência à autoridade.


           Momo tem uma discussão com seu pai, e antes que façam as pazes, ele morre. Ela e sua mãe acabam indo morar numa pequena ilha com os avós. Como era de se esperar, a garota acha o local tedioso. Até que aparecem três youkais, saídos de uns quadrinhos antigos, e começam a bagunçar a vida dela.


          Gosto dessa cultura de divindades e youkais. Queria estudar isso mais a fundo. As figuras do filme, meio que já são conhecidas, em formas parecidas em outros animes: Jigoku Shoujo, Rosario to Vampire, Natsume Yuujinchou, Inuyasha, Kamisama Hajimemashita, etc. E também a lição trazida de que devemos tentar não brigar com as pessoas que gostamos, pois nunca se sabe o que pode acontecer.


          Acho esse sorriso muito esquisito. A animação e design me lembra algo que já tenha assistido. Pessoas velhas vivem de recordação.


          Já essa imagem, acho muito engraçada essa reação. Também me parece algo que se repete em animes. Personagens estranhos com reações exageradas.

sábado, 4 de agosto de 2018

Antes

"Lucy, não pode brincar com os meninos!", Ana lamentava. A irmã nunca seguia as ordens dos pais. "Porque tenho que cuidar dessa criança?". Lucy era destemida, sempre buscando ação e confusão. As brincadeiras das garotas nunca foram suficiente para o tanto de energia de que dispunha.

Lucy acorda. Agora não é mais uma criança de pele lisa. Já não tem mais a irmã para lhe dizer o que é certo e o que é errado. Abre os olhos lentamente, pois sua cabeça dói de forma insuportável. Onde estou? Senta-se com cuidado e analisa o quarto ao seu redor. Madeira. Tudo parece ser feito de madeira. Há roupas jogadas por todo canto. Um cinzeiro transborda no criado mudo a seu lado da cama. Eu não tinha parado de fumar? Quando seus olhos se acostumam a penumbra, consegue enxergar os ponteiros do relógio caído ao pé da parede. Passam das três da madrugada. Como diabos eu vim parar aqui? O lugar cheira a sapato sujo, molhado. Não há nada a que sua mente consiga se agarrar para formar uma lembrança coerente.

Uma luz se acende no comodo ao lado. Uma sensação de pavor intensa sobe por sua garganta. Seu corpo gela em expectativa. Seja o que for que vai acontecer, sua mente parece já ter passado pelo mesmo. Pés desconhecidos se arrastam em direção à porta do quarto. A maçaneta gira. O tempo para. Preciso de uma arma. Algo para me defender. Preciso fugir daqui. Não posso fazer nenhum barulho. Sua mente trabalha no limite. Lágrimas ameaçam turvar sua visão. Não! Preciso enxergar. Ela tenta se controlar. Seu peito dói. A vontade de gritar a atormenta. Não posso gritar. Isso já aconteceu.

A porta se abre. Um homem entra no quarto, trazendo um copo de alguma coisa fumegante. "Já acordou, Docinho?" Seu sorriso é alarmante. Seus olhos transparecem o desejo. Desejo desperto pelo pavor estampado no rosto de sua vítima. Ela parece mais calma. Deve ter aceitado seu destino. Preciso mudar isso. Preciso de alguma diversão. "Você precisa beber algo, Docinho. Não queremos desmaiar de novo, não é mesmo?". Essa vagabunda acha que vai escapar. "Aqui, tome um chocolate quente. Vamos conversar." Ele se aproxima cautelosamente. Ela já tentou fugir algumas vezes. E é muito forte quando está com raiva. Drogá-la foi a melhor decisão, mesmo que tire um pouco da diversão. Pelo menos não preciso de amarras. 

Ele entrega o copo a garota trêmula com um sorriso, a excitação da caça em antecipação. Ninguém ouvirá seus gritos. E se ouvirem, pouco importa. Aqui ninguém se mete.

Lucy aceita o copo e toma um gole sofregamente. Sua mente parece clarear um pouco. "Vamos, Docinho. Quero você bem for--" O homem alto e barrigudo nunca teve a chance de terminar sua fala. Lucy jogou o restante do conteúdo do copo em seu rosto. E enquanto ele gritava de dor pela queimadura, ela acertou sua cabeça com o cinzeiro. O cinzeiro era de pedra e se rachou ao meio, e o homem caiu desacordado no chão com um baque. Lucy levantou, tropega. Pegou o casaco que estava junto a porta. Parece que voltei a fumar. Pensou ela, e acendeu um cigarro. Foi ao comodo vizinho e pegou uma garrafa de uísque.

"Bebida pavorosa!" Disse ela derramando o conteúdo marrom sobre o homem. Sua última lembrança foi de uma explosão enquanto entrava no bosque próximo a casa. Ela parou para observar a beleza das chamas, mas logo perdeu o interesse pois o ar tão puro estava ficando saturado com a fumaça. Deu as costas, e partiu.

Que lugar é esse? Isso não para mais de acontecer? Olhou ao redor. Era noite, e estava próxima a uma fogueira, coberta em algum tipo de pele de animal. Sentou-se rapidamente para verificar sua situação. Estava só. Ouviu um barulho de folhas sendo pisadas, e um odor doce e almiscarado preencheu o ar. "Ah, parece que nossa hóspede acordou!" Disse um homem jovem. Jovem e forte. Droga! Aquele outro pelo menos parecia burro. Olhou ao redor em busca de alguma coisa que pudesse ser usada como arma. Não havia nada. Estava em uma clareira limpa no que parecia ser uma floresta. Talvez pudesse pegar um galho da fogueira.

Jeremy a observou cuidadosamente. Estava assustada e parecia querer se proteger dele. Que ideia mais engraçada. Como se eu que fosse o predador. Em voz alta disse: "Você não precisa se defender de mim. Seria incapaz de ferir outra criatura. Não aqui. Nem mesmo em autodefesa."

Ele se aproximou, a passos lentos para não assustar sua hóspede. Ao se aproximar da fogueira Lucy pode notar que usava calças do mesmo material que sua manta. Não vestia nada sobre o peito, e estava descalço. Descalço. Espera, aquilo são... 

Continua..

domingo, 29 de julho de 2018

Darling in the Franxx

¬¬ Parece que consigo ver animes de novo. Talvez por que eu devesse estar fazendo outra coisa [muitas outras coisas]. No entanto, acho bem estranho minha forma de escolher animes. Tava vendo um da nova temporada, Asobi Asobase, e estava bem legal, até acabar o terceiro episódio e eu ter que aguardar lançar um novo. Enfim, depois de ver Mahoutsukai no Yome [bom demais], estava cansada de ver mais shoujos [também porque acho que não tenham sobrado muitos], decidi ver Boku no Hero Academy. Mas aí, não estava realmente afim de ver, por que odeio ver esses animes muito comentados. Aí decidi escolher uma letra e pegar um anime da lista. A escolha é estranha porque eu não gosto de mecha, e ando evitando shounens há alguns anos. E ainda tem essa cena ecchi bizarra:


É. O anime é sobre robôs controlados por casais de adolescentes, onde as mulheres costumam assumir essa posição. Poisé, bateu até um feminismo. O que me fez ir adiante foi esse rostinho:


E meu gosto por personagens desafiadores e capazes de perder o controle e destruir tudo de cabelo rosa:

Haruko - FLCL

Mirai Nikki


Inori - Guilty Crown

Crona - Soul Eater

Lucy - Elfen Lie


















Moka - Rosario to Vampire























Apesar de que não lembro o gênero de Crona, não que faça diferença. E a Moka, a louca era a de cabelo branco, que era a transformação dela. 

SPOILER - E mesmo com todas essas citações, a história me remete a Deadman Wonderland, ou mesmo Guilty Crown, onde o personagem meio sem graça e incapaz de agir diante de sua realidade, se depara com uma garota poderosa, que o faz se tornar mais forte. E no fim, eles já haviam se encontrado na infância, onde ela era torturada em experimentos científicos. O garoto ajuda a menina a fugir, temporariamente, porém eles são capturados e a memória do garoto é apagada. A garota continua com sua obsessão pela única pessoa que lhe mostrou caridade. Até que se reencontram, e algum evento traumático traz a memória de volta. Sério. Se você ver os três animes, vai ver que essa estrutura é a mesma. E ainda assim, indico cada um deles, porque são muito bons em si.

Zero Two - Darling in the Franxx

Já que está sendo um post de citações, essa imagem acima me faz lembrar de Simca, de Air Gear, que, por acaso, também tem o cabelo rosa. Desse não posso falar muito, pois nunca terminei de ver. Nem mesmo cheguei perto [volta pra lista].

Simca - Air Gear
Agora imagens que baixei porque achei interessante, mas não tenho mais o que comentar: