sábado, 8 de setembro de 2018

O Pensamento Sociológico no Século XVIII

BIERSTEDT, Robert, “O pensamento sociológico no século XVIII”, in BOTTOMORE, T., e NISBET, R., História da análise sociológica. Rio, Zahar, 1979. p. 19-64.


O Pensamento Sociológico no Século XVIII


Robert Bierstedt

      O termo "sociologia", surgiu no séc. XIX, apesar de suas ideias terem um passado longo. Os filósofos, livres pensadores, se interessaram pela natureza do homem de viver em grupos. Estes, eram "filósofos morais, não cientistas sociais, interessados não no estudo da sociedade em si mesma, mas na sua reforma em benefício da humanidade. Eram também cientistas políticos e não sociólogos, interessados na origem e usos do governo, e não na estrutura da sociedade." (p.20) Seu lema era Sapere Aude: ousar conhecer. 

     O Iluminismo se baseava em quatro pilares: substituição da religião pela ciência; exaltação da razão; crença na perfectibilidade do homem (progresso da raça humana); preocupação com os direitos do homem.

         A ciência teve avanços admiráveis com Copérnico, Newton, Galileu, entre outros, que tiveram de enfrentar a Igreja em época de inquisição para manter seus postulados, descobertos a partir do recém criado Método Científico. "Conhece-te a ti mesmo, não pretendas Deus investigar, O estudo adequado ao homem é a humanidade." (p.24), Pope, sobre o início do antropocentrismo. As ciências sociais não eram distinguíveis no séc. XVIII, e o autor aborda figuras importantes do pensamento iluminista que ajudaram a trazer a tona a Sociologia:

--->> FRANÇA

* Montesquieu: Homem viajado, "Considerava-se primeiro homem, e depois francês, e queria ver todos os povos imparcialmente." (p.25). Escreveu Cartas Persas, no qual narrava a forma de ver a vida e as instituições francesas pelos olhos de um oriental. Isso, que na Antropologia é também buscado: se distanciar e ver as diferenças, para então analisar os fatos sociais de sua sociedade de origem. Em outro livro, Montesquieu exclui o papel da divindade da análise histórica, além de diminuir o papel do indivíduo. Logo, acontecimentos individuais não teriam poder de alterar fatos gerais. Para ele, segundo Plamenatz, "Todas as instituições, políticas, religiosas, domésticas, econômicas e artísticas estão, aos seus olhos, inseparavelmente relacionadas entre si." (p.27). 

          Em O Espírito das Leis, dedicou grande atenção ao clima como fator determinante na cultura de um povo. Afirma que os países frios teriam pessoas superiores em força, mais francas; enquanto nas países temperados as pessoas seriam mais sensíveis aos prazeres. Ele também considera outros fatores como o solo, a disponibilidade de água, distância do mar e presença de portos naturais, além da distribuição das massas de terra e água. Além do fator geográfico, ele também considera importantes: a religião, as leis, moral e costumes, comércio, educação, música, agricultura, pobreza, etc. Montesquieu "Excluiu o sobrenatural da explicação das sociedades humanas e apresentou o método comparado para o estudo das instituições sociais." (p. 31). O objetivo deste livro seria o o mesmo que o da Sociologia: tornar a história inteligível.

* Voltaire: Era contra o cristianismo, por este se opor a razão. Acreditava na unidade da humanidade, pois os homens podem ser diferentes na aparência, porém tem os mesmos sentimentos e desejos. Não tinha preferências políticas, observando porém que "os ricos preferiam a aristocracia, o povo a democracia, e os reis a monarquia." (p.31). Natureza x Costume. Acreditava em justiça, porém dizia que a igualdade era uma ilusão. Buscava conhecer os passos que a humanidade deu da barbárie à civilização, uma história contada a partir das grandes ideias mais do que das conquistas militares. Homem x ambiente.

* Rousseau: Afirma que a sociedade é corruptora do homem, e que a ignorância havia sido substituída pelo ceticismo. O aparecimento da ciência seria o declínio da moral. Diz que as diferenças entre os homens podem ser naturais ou sociais. Sendo que as desigualdades naturais seriam estas aumentadas pelas sociais. Desde sua origem, os homens foram se espalhando e criando linguagens e costumes, até que passaram a viver em pequenas sociedades: as famílias, que passaram a se unir em grupos maiores, tornando as ocupações mais especializadas. Começaram então as desconfianças, e o homem tornou-se mau. Para se defenderem os homens se juntaram e "correram ao encontro de suas cadeias" (p.35). "O homem é, por natureza, bom, e somente suas instituições o tornaram mau." (p.36).
Ao perder a liberdade do estado natural, é preciso ser ressarcido em sua vida social, por meio de um contrato, criando um órgão coletivo e recebendo uma unidade e uma identidade comum. Ressalta a importância dos costumes, os quais equipara as demais leis.

* Diderot: Um dos compiladores da enciclopédia, tidos por ateístas. O verbete "homem" aparece como um ser social, sem menção a teoria criacionista.

* Condorcet: Foi contra a escravidão, um dos primeiro a sê-lo. Ardoroso defensor dos direitos das mulheres. "Apoiou o sufrágio universal, a educação universal gratuita, a separação entre a Igreja e o Estado, a liberdade religiosa para todas as crenças sem exceção, o bem estar-social e o seguro social para os pobres, o processo adequado da lei para todos, uma legislatura unicameral, um tribunal mundial com autoridade para solucionar disputas internacionais, a livre empresa, o casamento civil e o divórcio, e o controle da natalidade." (p.40). Entre seus estudos está a perfectibilidade do homem através da razão.

--->> ITÁLIA

* Giambattista Vico: estudou a ascensão e a queda das nações, em seu livro A Nova Ciência. "É a história da gênese da sociedade e da longa transição para a civilização, processo que se inicia com a religião e termina com as artes e ciências." (p.44). Aspectos criacionistas foram mantidos por medo da inquisição, apesar de afirmar que a religião seria uma resposta ao medo. Vico identifica três estágios nas histórias das sociedades humanas: a idade dos deuses; a idade dos heróis; e a idade dos homens. E estes estágios se repetiriam em ciclos. Cada sociedade criou sua própria cultura, tendo pois, todas elas, uma base de verdade, e nenhuma tradição sendo totalmente falsa.

--->> ESCÓCIA

* David Hume: Dizia ser o costume o grande guia da vida humana. "As regras, são necessárias tanto para a satisfação dos interesses individuais como para a estabilidade da sociedade." (p.47). Apresenta como a fraqueza do homem preferir o bem imediato. Também acredita na natureza cíclica das sociedades, e em seu fundo de características comuns, e diz que ao observarmos as sociedades podemos descobrir os princípios constantes e universais, e assim, conhecer as molas regulares da ação e comportamento humano. Refuta Montesquieu e sua visão de que a geografia afetaria o temperamento humano.

* Adam Ferguson: "Ferguson acreditava que a sociedade é o estado natural do homem, e que o estudo adequado da humanidade é o estudo de grupos, e não de indivíduos." (p.49). Para ele, a mente humana precisaria do convívio social para se desenvolver. Concorda com a geografia de Montesquieu, e apresenta as suas três fases humanas: selvagem, bárbara e polida. Diz que a evolução social é linear, se devendo à virtude, que floresce em tempos de luta e sucumbe ao vício quando estas são ganhas. Acreditava que a guerra era própria das sociedades e lhes dava forma.

* John Millar: Se interessa pelas maneiras, costumes e instituições sociais. Rejeita a teoria de Montesquieu. Afirma que uma sociedade sem classes é vã, ao que explica: "As classes superiores são ao mesmo tempo parasitárias e dotadas de qualidades de liderança, e as classes inferiores são estúpidas e dotadas de uma inteligencia apenas animada." (p.53). Estabeleceu quatro fases na evolução social: fase da caça, fase pastoril, fase agrícola e fase comercial.

--->> ALEMANHA

* Herder: Tendeu para a religião, mais que os demais pensadores. Fez uma apreciação do clima sobre sobre as diferentes raças: "Não obstante as Variedades da Forma humana há apenas uma e a mesma espécie de homem em toda a Terra." (p.55). Reconhece também que o homem necessita da vida em sociedade para seu desenvolvimento. Aponta a paz como estado natural do homem, mesmo que a guerra se faça necessária, às vezes. Sua análise é principalmente historiográfica.


          Não há sociólogos ingleses relevantes a serem apresentados durante esse período. 

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