domingo, 30 de setembro de 2018

Grotescas


Autor:
Natsuo Kirino
Tradutor: Alexandre d'Elia (do inglês)



Nº de Páginas: 576
Editora: Rocco
Gênero: Romance Policial



"Lá estava ela em carne e osso: minha amada rival da época do colégio, a encarnação da libertinagem."



          Acho que sempre espero uma análise do comportamento humano em livros asiáticos. E mais uma vez fui levada aos confins mais profundos do ser humano. Até onde se pode chegar, em termos de instinto? A natureza humana pode ser mudada? As personagens demonstram que não. A tendência é se afundar cada vez mais na decadência.

          A história narra a vida de duas irmãs: Yuriko, a belíssima, e sua irmã mais nova, a complexada. A narradora mostra desde sempre seu lado mesquinho e invejoso. Mostra a versão dela de como sua vida foi prejudicada por ter uma irmã monstruosamente bela. Imagino que por construção da autora, mostrando a fixação da narradora pela beleza, e por conseguinte o papel social que a beleza impõe no Japão, eu não consigo lembrar o nome dela.

         A narradora é a figura apagada que vive em função de seu complexo com a irmã. Sendo, até mesmo depois da morte desta conhecida como a irmã mais velha de Yuriko. Yuriko é a encarnação da luxúria, admitindo ela mesma não gostar dos homens, apenas de sexo. Começou sua vida de prostituição aos 15 e não parou até ser assassinada.

          Outro complexo social exposto no livro é o esforço inumano que a cultura japonesa impõe aos estudantes. Mitsuru é uma das personagens que viveu isso, e ao terminar seus estudos simplesmente não sabia o que fazer de si. Kazue Sato, viveu dilema semelhante, mas ao contrário de Mitsuru, ela nunca foi aceita, por nenhum grupo, em momento algum de sua vida. Sempre buscou agradar e seguir os passos de seu pai. Via sua mãe como inferior e odiava a irmã. Nunca conseguiu se adaptar nem fazer amigos na escola. No emprego continuou a não ser incluída. Até como prostituta ela não era aceita. Não havia lugar no mundo para ela, porque ela não tinha beleza, porque era mulher numa sociedade machista.

          O livro é considerado um romance policial. Mas não o vejo assim, pois a parte investigativa é deixada em segundo plano. O que são analisadas são as personalidades e pontos de vista. Nem mesmo nos é dada a certeza de que o que alguém disse é mesmo verdade. São diários, notícias, depoimentos. Recortes de visões parciais que nos propomos a montar ao ler.

         Natsuo escreveu um romance entretecendo temas polêmicos como bullying, beleza e sociedade, misoginia, a cultura japonesa de se exaurir para alcançar objetivos, incesto, prostituição, o bem e o mal, xenofobia, etc.

Link para o livro: Grotescas

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