sábado, 30 de março de 2013

A Aldeia



Só me lembro de estar andando em uma pequena aldeia. O lugar era completamente cinza, as casas, comércios e as pessoas, as roupas e as frutas expostas numa bancada. E tudo era silêncio. Somente se ouvia o barulho do vento e o ocasional farfalhar dos longos vestidos das mulheres, que cinzas e em silêncio seguiam. Não se via crianças em nenhum lugar, talvez por isso fosse tudo cinza e silêncio.

E eu, estranho a tudo que me cercava, seguia a observar a estranha monotonia da localidade. Um cachorro a tentar espantar as moscas a mordidas. Fazia um calor intenso, assemelhando o lugar a um cogumelo velho e bolorento, exposto ao sol escaldante do meio-dia. Não sabia como chegara ali, e também não sabia onde 'ali' era.

Somente caminhava e observava. Um padre passando apressado, a me olhar meio assustado. Ele seguiu seu rumo e eu o meu, até chegar a uma velha casa de sobrado. Ela tinha uma varanda de madeira roída e podre, como todo resto. No andar inferior encontrava-se uma mulher, cinza, silenciosa e quente. Ela me olhava atentamente, com os olhos se esvaziando das lágrimas silenciosas e quentes, mas vermelhas. 

A mulher ergue-se de sua velha cadeira de balanço e eleva sua mão em minha direção, como se a me convidar a pegá-la. Então a garotinha, pequena, magra e de expressão vazia, solta minha mão e caminha até a mulher. Quando seus olhares se encontram e suas mãos se tocam, tudo some. E aqui fico eu, a olhar a mão que não sabia que levava a da criança. Em uma pequena aldeia, onde não há mais ninguém a vista. Só silêncio, e calor, e o perpétuo ar cinza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário