quarta-feira, 16 de julho de 2014

Chihayafuru

Autor: Yuki Suetsugu [I - Naoya Takayama, II - Yuko Kakihara e Ayako Katoh]


Anime: Chuhayafuru  - 25 Episódios
            Chihayafuru II - 25 Episódios
Estúdio: Madhouse
Abertura: Youthful - 99RadioService
                 Star - 99RadioService
Encerramento: Soshite Ima - Asami Seto
                         Akane Sora - Asami Seto


"Li num livro, uma vez, que quando você se pega querendo que uma certa pessoa estivesse contigo, ela é como família pra você."




Os Cem Poemas do KarutaChihayafuru é um anime sobre um jogo popular no Japão, o Karuta [que, como otaku, já deve ter percebido que vem de "carta", não, não sei a origem disso..]. Este é um jogo de cartas que une corpo e mente, sendo necessário memorizar cem poemas clássicos de diferentes poetas japoneses [Lembro de ter visto em Isshuukan Friends, que as crianças são incentivadas a memorizar estes poemas durante, o que aqui no Brasil é a primeira etapa do ensino fundamental..]. Para jogar, cada jogador deve pegar 25 das cem cartas, e posicioná-las em três fileiras. Há, então, um período de 15 minutos para memorização das cartas. O jogo precisa de um leitor, que irá ler os cem poemas em ordem aleatória, para que os jogadores peguem as cartas em campo. Quem zerar as cartas de seu campo primeiro ganha [há uma Associação Brasileira de Karuta... e pode-se baixar um Manual de Karuta Competitivo em PDF, é bem simples e explicativo]. Esse jogo trabalha muito a memória e a concentração, além de exigir um grande esforço físico, principalmente para quem participa de campeonatos, e é necessário tanto velocidade quanto boa audição. Ao clicar na imagem ao lado, você poderá verificar os cem poemas [Ogura Hyakunin-Isshu], tanto no original japonês, quanto numa tradução duvidosa [oriento a baixar o arquivo, porque a visualização fica muito pequena neste leitor..].


Explicado o jogo, ou nem tanto, vamos à narrativa. Chihaya é uma garota muito ativa, meio cabeça-oca, que ama o Karuta. O anime começa com ela pregando cartazes para recrutar outros estudantes para seu Clube de Karuta na escola [aí eu pensei: mais um anime em que um clube torna todos felizes e tals..]. Os demais estudantes costumam chamá-la de "beleza em vão", porque ela é desastrada e só se interessa pelo jogo. Então, somos jogados em um flashback [eh odeio Lost..], que dura toda a primeira temporada, mostrando como ela se apaixonou pelo jogo, e sua luta para tornar-se Rainha nele [maior título honorífico para uma jogadora, e Mestre, no caso dos homens.. muito legal é que essa primeira temporada termina onde começou: com a cena dela pregando os cartazes..].



Quando criança, Chihaya sonhava em ver sua irmã se tornar uma modelo famosa, somente depois passou a ter um sonho próprio. Ela usava cabelo curto, parecendo um garoto, e sempre dizia o que lhe vinha a cabeça. Em sua classe havia um garoto transferido com quem ninguém falava, ele possuía um sotaque diferente, o que fazia os demais zombarem dele [a crueldade das crianças..]. Chihaya acaba se tornando amiga dele, pois é um tipo de pessoa sincera, que não suporta injustiças. E, é ele quem lhe apresenta o Karuta, e também a faz perceber o quão impressionante e divertido o jogo pode ser. Ah, sim, esse é o Arata, o avô dele é um Mestre, e ele é um prodígio no jogo.





Há um outro garoto, Taichi, amigo de Chihaya, que não vê com bons olhos esta nova amizade. Ele gosta da garota desde sempre, e ela é tapada demais pra notar. No fim, os três acabam se juntando e formando um time de Karuta. Entretanto, [como nem tudo são flores] o destino se dispõe a separá-los. Taichi vai pra outra escola [esse sofre uma pressão terrível da mãe, para fazer diversas atividades, e vencer em cada uma. Engraçado o medo que Chihaya tem dela..]. Já Arata, tem de voltar a sua cidade natal, pois seu avô está doente. Assim, o time se separa, com a promessa de voltar a se encontrar em torneios. Chihaya se esforça muito, ficando quase obcecada pelo Karuta.

Aparentemente, ela é a única que não abandona o jogo. Taichi tem outras ocupações, além de achar que nunca superaria Arata. Já no colegial, ele acaba na mesma escola que Chihaya, e voltando a jogar [também sendo forçado a ser presidente do clube..]. Daí começa a luta por novos membros, que são literalmente arrastados para o clube por Chihaya.



Os demais membros são Kanade, uma jovem apaixonada por poesia clássica, e que fazia parte do Clube de Arco só para poder vestir um hakama [que é um tipo de kimono..]. Sua família é dona de uma loja que aluga e vende kimonos, e ela somente aceita participar do grupo com a condição de eles vestirem hakamas nas competições. Kanade mostra um novo mundo por trás do Karuta para o grupo, pois ela conhece a história e o significado poético por trás de cada carta [diz também que o Karuta já foi um jogo para nobres, assim, tenta colocar um pouco de postura e requinte em Chihaya]. Ao contrário de Chihaya, ela é pequena e fofa, mas de temperamento forte.



O próximo é Nishida [que é apelidado de Nikuman, algo como Porquinho, trocadilho em japonês..], que é um anterior oponente do grupo de Chihaya quando criança. Ele trocou o Karuta pelo tênis [mais um que não aguentou o talento de Arata..], pois achava que não poderia melhorar no jogo. O esforço de Chihaya, e o fato de que ele ainda ama o jogo, o fazem entrar para o clube. O último integrante [nesta temporada..] é Tsutomu [que é apelidado de Mesatomu, porque ele era um nerd, viciado em estudos, que nunca abandona sua mesa na escola], que nem mesmo conhecia o jogo, sendo recrutado por ser inteligente. Na verdade, Chihaya o leva, com toda sua delicadeza, até a sala do clube. Ele acaba cedendo, se tornando um dos mais fiéis membros, e o estrategista da equipe.






A partir daqui são mostrados os esforços e competições, brigas internas, e coisas afins. Chihaya é extremamente esforçada, e uma boa partida faz seus olhos brilharem. Por problemas pessoais, Arata abandonou o Karuta, porém Chihaya não desiste dele [fato curioso é que o celular dele é rosa..].





C.P.: Esse é daqueles animes utilizados para aumentar a popularidade de um determinado jogo [vide Hikaru no Go, Eyeshield 21 ou Slam Dunk..], o que é uma estratégia muito boa. Até eu me interessei pelo jogo [apesar de achar pouco provável que eu fosse memorizar cem poemas..]. De qualquer forma, o anime cumpre tanto este papel, quanto o de um shoujo muito bom. Há um triângulo amoroso, e a personagem principal não é uma coisa estúpida [como é comum.. mas também não é a criatura mais sensível do mundo...], e há todo o espírito de luta e equipe, geralmente presentes em shounens [e todo esforço e luta para melhorar, e mostrar que o Karuta é uma coisa importante para eles..].



quarta-feira, 9 de julho de 2014

Isshuukan Friends

Autor: Matcha Hazuki [Shotaro Suga]

Anime: 12 Episódios
Estúdio: Brain's Base
Abertura: Niji no Kakera - Natsumi Kon
Encerramento: Kanade - Sora Amamiya



"Lamentar o passado não vai resolver nada."




          Sempre há nas classes escolares uma pessoa mais quieta, como há também os péssimos em matemática, os desligados, ou os esquecidos. Certo, acabei de descrever os quatro personagens principais do anime. Fujimiya Kaori é uma pessoa na dela, sem amigos, quase desagradável, aparentemente. Hase Yuki [sério, tem um(a) Yuki em quase todos os animes.. deve ser como João ou Maria por aqui..] é um garoto muito transparente, e péssimo em matemática, que se interessa pela misteriosa Kaori, e resolve ser amigo dela. O melhor amigo de Hase é Kiryu Shogo, um garoto meio desligado e sarcástico, que prefere fugir de coisas problemáticas. Por fim, temos Yamagishi Saki [Saki-chan, que é a representação da fofura..], esta é uma garota extremamente esquecida, e também muito adorável, que também decide ser amiga de Kaori.







          Entretanto, quem disse que Kaori quer amigos?? Em verdade ela os deseja profundamente, mas ela tem um problema, e acha que seria impossível ter amigos. Alguns anos antes, Kaori sofreu um acidente, e como sequela sua memória foi afetada, assim, ela tem a memória resetada toda semana. Acontece também que não é toda memória que é apagada semanalmente, somente a memória relacionada a amigos é deletada. Por isso ela se afasta de todos, para poder lembrar-se deles. Hase insiste na amizade, e ela cede, passando a anotar os eventos da semana em um diário, para poder ler depois e saber o que aconteceu. E claro, há ocasiões em que ela não lê o diário por alguma razão, então encara os amigos como se fossem completos desconhecidos, além de as pessoas dificilmente acreditarem em sua história. A partir de então, cada semana é uma nova batalha, para manter os amigos, e tentar manter as memórias, talvez vencendo o trauma.



C.P.: Imagino que ao ler a descrição do anime todos se lembrem de Como Se Fosse a Primeira Vez, que é um filme famoso que trata do mesmo tema, apesar de neste caso a memória ser resetada diariamente, ou até mesmo do livro Deslembrança [huhu autopromoção..]. Na verdade, quando vi o primeiro episódio pensei que já era um tema batido, acontece que não importa o tema de uma história, e sim como ela é contada. Além disso, o designer dos personagens é maravilhoso, e isso me atraí bastante [o que não quer dizer que seja essencial, levando-se em consideração animes como GTO..]. Outro ponto é o fato de não haver muita história a ser contada, isso ocorre em animes slice-of-life, como é uma coisa cotidiana acaba por ser repetitiva, e sem grandes eventos [geralmente festivais, Ano Novo, Natal, Dia dos Namorados..].




quinta-feira, 3 de julho de 2014

Märchenmond: A Terra das Florestas Sombrias

Autor: Wolfgang e Heike Hohlbein


Gênero: Ficção/Fantasia
Editora: Prestígio Editorial
Nº de Páginas: 358



"Quem se expõe voluntariamente ao ridículo desfruta certa liberdade, a liberdade dos palhaços, e assim se torna forte!"



          Aos capazes de tornar histórias absolutamente clichês em algo especial, meus votos de eterna felicidade. Pois é exatamente isto que ocorre em Märchenmond: um garoto normal [em verdade meio nerd, com gosto por leitura e nem tanto por matemática..], é levado a um mundo mágico, o qual somente ele pode salvar. Kim, um garoto de onze anos [segundo me lembro, o que não é necessariamente confiável..], gosta de livros de ficção científica, com naves e robôs, e batalhas intergaláticas, e vive com seus pais e sua irmã, de quatro anos de idade, Rebekka. Sua família está enfrentando um sério problema: Rebekka, após uma cirurgia para retirada do apêndice, não acordou. O pai de Kim voltou a fumar, e sua mãe chora desesperadamente. Em uma visita ao hospital, que não trouxe novidades para o quadro clínico da garota, a infortunada família vai para um Café, e Kim se vê observado pelo mesmo velho que havia visto no hospital. Logo, porém, ele esquece o assunto. Até que ao ir se deitar para dormir, se depara com o mesmo velho em seu quarto. Esse velho é Temístocles, um grande mago de Märchenmond [que diz que um dos nomes pelo qual é conhecido é Gandalf, ou Merlin.. bem pretensioso..], que é um mundo paralelo, onde a magia impera.


"O que um homem aparenta ser a primeira vista - impressão favorável ou desfavorável, tanto faz - pode, muitas vezes, ser enganoso."


          Temístocles explica sobre Märchenmond para Kim, e também conta que Rebekka é uma amiga querida, que foi aprisionada pelo terrível Boraas [o mago do mal que quer dominar o mundo, uahahhaha..], e por esta razão a garota não acorda neste mundo. Kim deve então ir a Märchenmond, para resgatar sua irmã, e para isso deve encontrar seu próprio caminho. O caminho do jovem é através dos ares, numa nave espacial, Viper, ele cruza os céus até chegar ao novo mundo, porém algo dá errado, e ele acaba caindo do lado negro de Märchenmond, a Cordilheira das Sombras, que é onde se encontra o castelo de Morgon, lar de Boraas [este é um daqueles livros com mapas das terras e tals..]. Assim, logo ao chegar, Kim vê-se prisioneiro das forças do mal, no castelo onde sua irmã é mantida sob um feitiço, e de onde ninguém nunca conseguiu escapar. Então, é claro, Kim dá um jeito de fugir, encontrando alguns moradores do local, que o ajudam. estes são o Rei dos Charcos e seu filho, que são seres profundamente ligados as águas [com guelras e tudo.. meio anfíbios..]. 

          Com a ajuda do Rei dos Charcos, Kim prossegue em sua jornada, em busca de Temístocles [que em aparência é igual a Boraas, que os chama de irmãos..]. Ao longo da viagem ele se depara com grandes perigos, e descobre os preparativos para a guerra do enorme exército de Boraas. O jovem encontra verdadeiros amigos em suas andanças, como a família Tak, que é composta por texugos falantes [ou nem tanto, são pouco sociáveis..], encontra também o gigante Gorg, o urso Kelhim e o dragão dourado Rangarig [amor eterno aos dragões, sempre rabugentos e orgulhosos..]. Agora Kim tem de encontrar um meio de acabar com uma guerra em completo desnível, pois os habitantes de Märchenmond não são do tipo guerreiro, uma vez que são um povo pacífico, o que quer dizer que não têm como se defender, e além disso ainda tem que resgatar sua irmã, que é praticamente esquecida em meio ao turbilhão de acontecimentos fascinantes, e outros tantos desagradáveis.


"Mas, apesar de todas as guerras e de todo o terror, sua riqueza crescia e, assim, construíam mais máquinas e mais armas. Todos sabiam que assim não podia continuar, mas ninguém moveu um dedo para impedir esse desenvolvimento mortal. Até que chegou a derradeira guerra, a mais cruel de todas."


          O trecho acima fala de um povo que viveu em Märchenmond, mas há muito tempo se extinguiu, um povo que causou a própria destruição. Tão próximo da nossa realidade que até assusta.




Autores: Como todo autor de fantasia, Wolfgang Hohlbein é comparado a Tolkien, porém este possui uma obra maior, com mais de 160 livros publicados, entre fantasia, suspense e terror. Trabalha, às vezes, junto a sua esposa e também escritora Heike Hohlbein. Seu trabalho é reconhecido em toda Europa, tendo sido eleito o autor do ano em 2004, na Alemanha.




Link para o livro:



C.P.: A batalha entre o Bem e o Mal nunca foi tão descaradamente mostrada. De um lado um castelo de vidro, com os guerreiros de branco, montados em unicórnios, e no extremo oposto os cavaleiros negros, meio gigantes e bestiais, que habitam Morgon, um castelo que parece repelir a luz. Tudo se resume ao bem e ao mal, e a necessidade de equilíbrio para a existência de ambos. Minha crítica aos magos poderosos permanece: eles não parecem fazer grande uso de sua magia [Temístocles, além de tudo, ainda é pessimista..]. O incrível número de coincidências é explicado, de alguma forma, as mortes em Märchenmond são encaradas como parte da vida. Profecias, o Fim do Mundo, o nada, ficção científica, magia, amizade, a descoberta da natureza humana, ..., me parece quando pensamos em escrever algo e fica meio que uma mistura de tudo que já lemos um dia. De todo modo, é tudo bem amarrado [com exceção do tempo, mexer com o tempo sempre dá m...., e também as condições físicas de uma criança... enfim, magia explica tudo!!], e como todo livro que me aparece, este faz parte de uma trilogia, sendo seguido por O Filho das Terras Sombrias e Os Herdeiros da Floresta [e ao que parece há mais duas continuações, não lançadas no Brasil, que foram escritas anos depois: Die Zauberin von Märchermond e Silberhorn]. Trilogias com mais de três livros em todos os lugares..

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Corset, Corselet, Corpete e Espartilho


          Corset é o nome francês dado ao espartilho, que é usado por baixo da roupa para redefinir as formas da silhueta, sustentar o busto, e dar suporte à coluna [dando um porte altivo a quem o usa]. O corselet é visualmente parecido com o corset, uma remodulação do mesmo, porém menos resistente, pois é feito com menos camadas de tecido, ele possui as chamadas barbatanas feitas de plástico ou silicone. O corpete é uma peça mais simples, sendo mais conceituada como blusa, que como lingerie, raramente possuindo barbatanas [que é o que faz a modelação corporal. Estes são conceitos atuais, podendo ter sido definidos de outra forma no passado..]. Respectivamente corset, corselet e corpete:






          A data de seu surgimento não é precisa, tendo menções na Grécia antiga, mas sendo notadamente conhecido durante o Renascimento. O uso dessa peça foi difundido a partir dos séculos XV e XVI. Nessa época eram itens desconfortáveis, geralmente fabricados com ferro, madeira ou ossos de baleia, além de várias camadas de tecidos grossos reforçadas por cordas [a pesca de baleias eram comum na época, e atualmente é regulamentada..], sendo que este último material prevaleceu até que começou a ser substituído por ferro ou outros materiais mais facilmente comercializáveis.

          Corset é o nome francês, sendo que na língua inglesa eram chamados de Stays ou Bodices, e eram fabricados em associações de artesãos [evolução das antigas guildas medievais], apenas por homens, uma vez que as mulheres não eram permitidas nas associações.



          Para acompanhar a moda, o corset mudou sua forma ao longo dos séculos. No século XVI, a forma do corset era cônica, achatava os seios e tinha ponto baixo na cintura, parecia uma armadura, usado somente pela alta sociedade devido ao alto custo de fabricação. Nessa época, o uso dos corsets não era restrito às mulheres, uma vez que as vestimentas dos homens também eram rebuscadas e volumosas. No século seguinte a forma cônica manteve-se, com anexo de adereços na parte inferior e na cauda, com o intuito de enfeitar. O século XVIII fixou os enfeites como parte do corset, que agora era usado para comprimir as costelas e ressaltar os seios, sendo também usado pelas classes mais baixas, neste caso com fabricação em couro.



          Seguindo tendências políticas, o corset foi abandonado na França, logo após a Revolução, uma vez que houve a ascensão do estilo neoclássico. Contudo, teve seu retorno em 1810 [já com o nome Corset popularizado], na forma do espartilho com alças. Em 1860, o corset apresenta uma forma menor, com o uso de barbatanas de metal aspiraladas [em substituição das de baleia..], sendo que a partir de 1830, ele passou a fazer parte da indústria [estima-se que houvessem mais de 10 mil trabalhadores especializados em sua confecção, em Paris, no ano de 1855], e agora as mulheres também participavam de sua fabriação [talvez por isso tenham ficado mais enfeitados e atraentes..]. Em 1870 seu uso volta a aumentar, com o advento de elásticos nos quadris, e o  ganho de cores em 1880.



          O corset, em geral, sempre foi usado como forma de seguir uma tendência de beleza, para afinar a cintura, porém alguns tentavam explicar seu uso de maneiras estapafúrdias, como as mulheres terem uma constituição tão delicada que precisariam de ajuda, e coisas do tipo. Casos de desmaios eram frequentes, uma vez que a peça impedia uma respiração mais profunda, além de deformar ou juntar de forma não natural os órgãos internos [por isso toda a imagem de fragilidade que as mulheres da época passavam..]. Muitos médicos eram contra seu uso, e ele foi proibido em algumas ocasiões [houve casos de costelas quebradas e doenças respiratórias]. Outra razão apontada para seu uso, também se utilizando da "fragilidade feminina", era de que o corset seria um dificultador ao assédio masculino, uma vez que era difícil retirá-lo [no caso das peças de ferro com ponto baixo na cintura, até poderia-se usar esta desculpa...].


          Foi no século XVIII que houve a disseminação do uso aberto do corset por parte dos homens. Isso foi causado pelo Dandismo, que é um estilo surgido na época, caracterizado por homens que se vestem com extremo refinamento e sobriedade [hoje chamados de transsexuais..], ressaltando a beleza do corpo masculino. Esta prática nunca teve grande adesão, sendo ridicularizada por alguns por meio de caricaturas [e os homens que usavam corsets diziam ser por correção postural..].


          Na segunda metade do século XIX, as mulheres carregavam de cinco a quinze quilos de roupas [espartilho, camadas de corpetes, no mínimo três anáguas, armação de saia ou crinolina, um vestido comprido, acessórios: xales, toucas..], e basicamente se arrastavam por aí [como não tinha de fazer nada, era um costume comum..]. Chegamos então a Belle Époque [1871-1914], que foi um período luxuoso vivido por poucos na Europa [os realmente ricos]. Aqui, o formato frontal do corpet torna-se mais simples, amplo e rígido, sendo adicionada a função de levantar as nádegas, tornando a silhueta mais curvilínea, com quadris mais largos. A faixa peitoral é diminuída, sendo este chamado "corset abdominal", era usado de forma muito apertada, para que a usuária adquirisse uma curvatura em "S" [a intenção era que a mulher tivesse a forma de uma ampulheta: seios e quadris acentuados, e uma cintura extremamente fina..]. Voltando aos conceitos deturpados da sociedade, temos que era questão de honra manter o espartilho muito apertado, pois quem não o tivesse teria sua moral posta em dúvida [hêhê..]. Ao longo deste século, o uso de espartilho estava diretamente ligado a respeitabilidade, pois demonstrava autodisciplina e postura [além de dificultar qualquer avanço por parte dos homens..].




          Com o passar das eras, o corset passou a ser mais ricamente enfeitado e confortável. Durante a Era Vitoriana era peça indispensável do vestuário feminino, servindo de base para assentar as demais roupas. Em 1920, seu uso foi praticamente abandonado, uma vez que as mulheres passaram a fazer parte da classe trabalhadora, deixando de lado os quilos extras de roupas para usar roupas mais práticas e leves. O espartilho passou a fazer parte do fetiche e fantasias sexuais. Na década de 50, quando voltou a moda da cintura fina, as mulheres optaram pelo uso de cintas de elástico, tendo o corset seu retorno nos anos 70, sendo alguns estilistas os responsáveis por tal fato. E finalmente, nos dias de hoje, o corset permanece vivo, sendo visto como forma de apelo sexual, e usado principalmente como fetiche.


















quinta-feira, 12 de junho de 2014

Ikoku Meiro no Croisée

Autor: Hinata Takeda


Anime: 12 Episódios + 1 OVA
Estúdio: Satelight
Abertura: Sekai wa Odoru yo, Kimi to - Youmou to Ohana
Encerramento: Koko Kara Hajimaru Monogatari - Nao Toyama
                        Tooku Kimi e - Megumi Nakajima
                        Tomorrow's Smile - A.m.u.


"A vida será chata se você tiver medo de conhecer novas pessoas."

       
          Oscar Claudel é um francês de certa idade que adora viajar, numa dessas viagens ele visita o Japão, e conhece a família de Yune, uma jovem japonesa de uma boa família, que segue todos os costumes rígidos exigidos no século XIX [se bem que mudar de país para morar com dois homens parece inverossímil..]. De volta a França, Oscar traz Yune para morar em sua casa, e trabalhar como empregada. Ele é o primeiro de uma geração de ferreiros, e fundou a ferraria Enseignes du Roy, que agora é gerida por seu neto Claude, um jovem meio rabugento, que vive sob o estigma do talento de seu falecido pai. A loja fica numa espécie de distrito comercial chamado Galerie du Roy, que compete com outro distrito chamado Grand Magasin, e é mais rico [na verdade as lojas da Galerie estão fechando, por não conseguir acompanhar a modernidade, e pela disputa com a Magasin. Provavelmente esta disputa é promovida pela família Blanche, que detém a propriedade dos dois distritos..].


          Então vamos ao cenário: a ambientação é simplesmente magnífica, tanto a francesa quanto a japonesa. A França, com suas grandes construções de cimento e vidro, e um clima ora sombrio ora ensolarado. As pessoas com seus trajes característicos: as mulheres em seus longos vestidos coloridos e cheios de babados [as ricas no caso, as pobres em roupas escuras marrons ou cinzas, geralmente de avental..], e os homens de terno e chapéu. O detalhismo da arquitetura é impressionante [apaixonada por essa época..], além disso, a família Claudel trabalha com fabricação de placas para as lojas, e todas de ferro ricamente trabalhado. No Japão, temos toda a estrutura de madeira e papel, cheia de lindos quimonos e pores do sol alaranjados. A ambientação musical é instrumental, sendo que o OVA é voltado para a música japonesa [músicas muito profundas, imagino as pessoas de Letras se divertindo analisando-as.. e também a Yune diz que japoneses são muito ligados aos sons da natureza..].



          Yune começa seu trabalho limpando a casa e a loja. De início Claude não a aceita bem, mas logo passa a admirá-la, por ser uma jovem perseverante [até mesmo teimosa]. Ele não entende os costumes japoneses, e ela deseja aprender os franceses. Yune nunca abandona o uso de quimonos, ou a boa simpatia que aprendeu em seu país, mesmo sofrendo com isso, e mais de uma vez dizem a ela que não deve sorrir para todos e nem se desculpar sempre [o povo francês é mostrado como desconfiado, e com razão, talvez por ser uma grande cidade..]. Mais uma vez é enfatizado o costume francês de poucos banhos, até porque há racionamento de água [Yune sofre com isso, pois está acostumada a tomar banho todos os dias].


          A família Blanche possuí duas herdeiras mulheres Camille e Alice, que são completamente diferentes na maneira de ser. Camille é a mais velha, é extremamente contida, e sempre segue os costumes ao pé da letra [o que a deixa com um caráter ambíguo..]. Alice é esfuziante, ela dá gritinhos de alegria, pula, é dramática, e adora a cultura japonesa. Por essa razão, quando descobre que há uma japonesa morando perto logo quer conhecê-la, e quando a conhece, quer que levá-la para sua casa [pode parecer mimada, o que de fato é, mas sabe aceitar a realidade..]. Claude não aceita essa amizade, pois considera a família Blanche sua inimiga, mas simplesmente não se pode ir contra as vontades de Alice [Claude também tem um passado relacionado a Camille]. Yune é convidada diversas vezes a visitar a mansão de Alice, que gosta de vesti-la com sua coleção de quimonos [ela trata a garota como uma boneca..]. Uma vez Yune veste um vestido francês, com crinolina [que é uma armação feita para sustentar e dar volume as saias, além dos corpetes usados para modelar a cintura. Verdadeiros instrumentos de tortura..], que ela diz parecer uma gaiola.

          Como nem tudo são flores, há os dramas pessoais. Claude com a morte de seu pai, Yune com sua irmã, que sofreu muito, por ter olhos de cor diferente [ser diferente no Japão, principalmente nessa época, parece ser uma ofensa a sociedade.], Camille com seu dilema social. Só Oscar parece pairar sobre os problemas de todos, e fugir deles com suas viagens e paqueras. Toda uma gama de preconceitos é apresentada, sendo uma das mais tocantes a de um menino que vive na rua, e tem de roubar para sobreviver. Ele aparenta ter no máximo oito anos, e até Claude é extremamente duro com ele. Somente Yune parece querer ver que as pessoas estão tentando lidar com a vida da melhor maneira que podem [o que também é um pouco ingênuo..].




C.P.: Este é um anime estilisticamente lindo, e também tem uma história muito boa, com exaltação dos valores, que estão esquecidos nos tempos atuais. A Alice é muito linda!! Me lembrou Katanagatari, mas não exatamente. Aparecem vários modelos de quimono, dá até vontade de ter um. A xenofobia é contestada, além da superficialidade das relações. Uma vez Yune se perde, e tenta falar com as pessoas, mas todas parecem estar muito ocupadas, ou a ignoram descaradamente [como estar sozinha no meio de uma multidão..]. As brigas de Claude e Alice são muito engraçadas. Bem, com caráter e perseverança, você pode mudar o mundo. Mais algumas imagens:







sexta-feira, 6 de junho de 2014

O Oceano no Fim do Caminho

Autor: Neil Gaiman

Tradutora: Renata Pettengill

Gênero: Ficção/ Fantasia
Editora: Intrínseca
Nº de Páginas: 208

Spoilers!!


"Eu não podia levar você até o oceano — disse ela. — Mas nada me impedia de trazer o oceano até você."




          Na altura de seus sete anos ele era um garoto muito solitário, que focava seu tempo nos livros. Os livros eram seus amigos, já que as crianças de verdade o evitavam [uma referência a crueldade das crianças, e ao bullying. Em sua festa de aniversário nenhuma das outras crianças apareceu]. Vive com sua irmã e seus pais, em uma enorme casa, que por causa de problemas financeiros, tem um quarto alugado. Assim, o jovem passa a dividir o quarto com a irmã. Um desses hóspedes é um minerador de opala, que logo ao chegar traz uma amostra dos problemas que iriam se seguir, atropelando o gato do garoto. Outro gato é comprado para substituí-lo, um gato malvado e rajado de laranja e branco, chamado Monstro [é uma dessas ideias que povoam a mente adulta, a de que se pode substituir sentimentos..]. 

          Um dia, o carro da família desaparece, sendo encontrado no fim da estrada, com o corpo do minerador, que aparentemente cometeu suicídio, dentro. Ao ir buscar o carro com o pai o garoto conhece Lettie Hempstock, que mora na fazenda no fim da estrada. Ela o leva para tomar o café da manhã em sua casa, onde ele conhece as outras duas Hempstock, a mãe e a avó. Elas aparentam ser pessoas do interior, ao mesmo tempo que parecem saber e poder fazer coisas estranhas, como ler um bilhete de suicídio à distância. Lá, Lettie mostra ao garoto seu oceano, que consiste num pequeno lago no quintal da propriedade, ela diz que as Hempstock viajaram através dele, deixando a velha pátria.

          Uma noite, ele acorda engasgado, e descobre haver uma moeda em sua garganta. Lettie diz que alguém quer dar dinheiro as pessoas. Ela o leva para se livrar da entidade, que está perturbando a paz local, e, ao encontra-la ["O rosto era esfarrapado e os olhos eram buracos profundos no tecido. Não havia nada por trás daquilo, era só uma máscara de lona cinza, maior do que eu jamais teria imaginado, toda rasgada e retalhada, balançando com as rajadas do vento de tempestade.", uma descrição estranha, mas completamente concebível, como a representação da alma. Como seríamos se nos parecêssemos com o que somos no mais profundo de nossos corações??], diz para o garoto não soltar sua mão. Como esperado ele solta, porém nada acontece, a não ser uma dor na sola do pé. Naquela noite, ele olha seu pé, e descobre que há um verme nele, que ele retira com uma pinça, com uma certa relutância do verme. No dia seguinte, aparece uma nova governanta: Ursula Monkton. 

          Logo ele descobre toda verdade sobre o caráter de Ursula, e tenta se livrar dela. O que não é nada fácil, com direito a adultério e tentativa de homicídio por afogamento. A entidade citada vem de um outro mundo, como se houvessem universos paralelos, ela quer dar dinheiro as pessoas, realizar seus desejos, quer que sejam felizes, mas de uma forma desesperada, o que mostra que o que queremos nem sempre é o melhor para nós [lembra o Sem Rosto, de A Viagem de Chihiro, mas de um jeito consciente e malvado]. As Hempstock também não fazem parte desta realidade, e são muito poderosas, pelo menos a avó, capaz de cortar e costurar a realidade. Na verdade, elas me fazem lembrar as três nornas [entidades da mitologia nórdica responsáveis por controlar a sorte, o azar e a providência, ou seja: o destino. Costumam ser representadas pela Virgem, a Mãe e a Anciã, e carregam o fio do destino, que é passado pelas três..]. Tudo isso se passa na lembrança do menino, agora, quarenta anos após o ocorrido, ele volta para a cidade de sua infância, para um funeral, e acaba visitando a fazenda do fim da estrada.

Neil Richard Gaiman, nasceu em Portchester, Inglaterra, e atualmente vive em Minneapolis, EUA. É autor de quadrinhos e romances. Entre os quadrinhos sua obra mais conhecida é Sandman, e entre os romances há Coraline, que ganhou versão animada em stop-motion. Além desses, há os romances Deuses Americanos e Lugar Nenhum, e também uma parceria com Terry Pratchet em Belas Maldições, e os Livros da Magia [que está na minha Incrível Lista de Livros a Ler..]. 


Link para o livro:



C.P.: Interessante notar que muitos nomes não são ditos, como o do personagem principal [mais interessante ainda que só notei isso agora..]. A realidade é constantemente contestada neste romance, sendo que ele visita a fazenda, e lembra coisas de sua infância, para então alcançar a compreensão, e então esquecer tudo de novo, como se não houvesse existido. Além disso, há o oceano, que parece comportar toda a sabedoria, mas que destruiria quem ficasse nele por muito tempo, pois passaria a fazer parte do todo, deixando de ser uno. Muito complexo. Gosto da perspectiva deste autor [principalmente do cabelo..], que, como poucos outros, mostra que crianças não são seres dementes, como muitos parecem supor.


"Eu me lembro perfeitamente da minha infância… Eu sabia de coisas terríveis. Mas tinha
consciência de que não deveria deixar que os adultos descobrissem que eu sabia. Eles
ficariam horrorizados."
Maurice Sendak