quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Entre a Solidão e a Liberdade

         Presa em minha torre e em meu tédio, uma princesa abandonada à companhia de um monstro voraz. Se eu tentar escapar à minha sina, o temível dragão me devorará. Em minha torre de pedra fria, aguardo que o indolente destino se decida por mim: devo viver em tédio ou morrer em agonia? Ambos parecem o mesmo, de onde me encontro. Tenho a minha disposição apenas uma janela, de onde vejo as estações se sucederem sem trégua. Chuva. Sol. Neve. Névoa. E o vento que leva as folhas e espanta o calor. De minha torre vejo a natureza mudar, porém de companhia apenas tenho meu algoz, que aguarda pacientemente que eu me canse da languidez dessa vida torpe e me decida por pular. 
         No meio desta floresta distante, somente a natureza muda. Ninguém passa por aqui, até mesmo a velha bruxa me abandonou. Disse-me que um príncipe me traria a liberdade em breve, e que a perdoasse o inconveniente. Anos se passaram, e aqui estou eu, à espera de meu salvador. O lugar parece ter vida própria: toda noite a bagunça que faço é arrumada, e toda manhã a comida está servida quando acordo. Tenho à minha disposição dezenas de livros, mas já os li, além disso, o conhecimento já não me apraz. Aqui nesta torre solitária, o conhecimento é mera vaidade. Posso passar horas meditando e observando o fogo da lareira no inverno. Qualquer que seja minha conclusão, ela será só minha, não há com quem compartilhar. 
         Li, certa vez, que a nossa espécie teme a solidão. Digo que já a temi, mas por convivência a aceitei como velha companheira. Como posso estar só em companhia da Solidão? Longos dias e noites mais longas ainda. Esperar é um ato temerário. Apostar que o melhor vai acontecer ou só temer o que estar por vir? Por mais que busque respostas para essas perguntas, elas são sempre respostas momentâneas, e mudam de acordo com meu humor.
          E, não tão tarde assim, chega meu herói salvador. Destemido ele mata o dragão, numa batalha longa e sangrenta. Muito cortês, ele me ajuda a sair de meu cárcere. Liberta de meu tédio, tenciono agradecê-lo imenso, porém subindo em seu cavalo, ele me olha e diz benevolente: Meu trabalho está feito. A princesa da torre está em liberdade. Aproveite-a bem, nem todos tem a sorte de possuí-la. E cá estou eu a vê-lo partir, coberto de sangue, criando seu caminho pela floresta. E cá estou eu, trilhando meu caminho, pela floresta sombria, em companhia da Solidão e da Liberdade.


Nenhum comentário:

Postar um comentário